Dólar beneficia a safra, mas pode afetar ganhos em 2016

Por: Rafael Vigna
Foto: JC-RS
Enquanto o dólar rompe a barreira dos R$ 3,20 e acumula altas superiores a 13,66% apenas em março, a expectativa para uma nova supersafra de grãos, estimada pela Conab, em 198,5 milhões de toneladas para 2014/2015 tem animado os produtores rurais do País. Com os insumos custeados quando a taxa de câmbio ainda não se aproximava da casa de R$ 2,80, as projeções de ganhos, principalmente, para as culturas mais voltadas ao mercado externo - como soja e carnes - são bastante positivas. No entanto, os ganhos previstos para 2015, podem estar ameaçados já no próximo exercício, caso se mantenha a escalada da moeda norte-americana ante o real. O alerta é do diretor-presidente da Associação Brasileira do Agronegócios (Abag), Luiz Cornacchioni.
"Com o preço das commodities em viés de baixa, e o dólar com perspectiva de alta, nem tudo é motivo de comemorações. Creio que se este cenário permanecer até o final do ano, teremos problemas em 2016, quando começarem as compras de insumos. Com dólar na casa de R$ 3,10 ou R$ 3,20, boa parte da rentabilidade de 2015 pode estar comprometida com o novo financiamento da safra", afirma.
Segundo Cornacchioni, outro aspecto que pode influenciar a competitividade da safra nacional no próximo período diz respeito à mudanças nas linhas de crédito rural. "Já aventamos a possibilidade de alterações que devem incidir diretamente sobre o custo deste dinheiro obtido via crédito. Talvez no primeiro momento, se mantenham os patamares de taxas praticadas para a agricultura familiar. Entretanto, para os produtores de grandes volumes, teremos a ampliação de custos também neste sentido", comenta.
Mesmo assim, o dirigente ressalta que as perspectivas para 2015 são bastante positivas para o agronegócio. Segundo Cornacchioni, um dos destaques é o segmento de carnes. "Trata-se de um setor que importa muito pouco, compra insumos em moeda nacional e vende a maior parte da produção em mercados externos que, a cada dia, ficam mais fortalecidos. Além disso, os níveis de investimentos necessários não chegam perto aos da agricultura de precisão", revela.
Por isso, a entidade, que representa mais de 90 associados, distribuídos em todas as cadeias produtivas, finaliza os preparativos para a 14ª edição do Congresso Brasileiro do Agronegócio. Confirmado para o mês de agosto, a programação do evento será lançada já na próxima quinta-feira, dia 26, em São Paulo. Entre os temas debatidos estarão a sustentabilidade e a integração produtiva agrícola.
Além disso, Cornacchioni antecipa que a entidade pretende retomar a realização de fóruns de discussão ao longo do ano. A ideia é colocar em prática quatro eventos - dois no primeiro semestre e dois na segunda metade do ano. O objetivo é organizar uma pauta setorial para ser encaminhada junto ao Congresso Nacional. No foco principal estará uma antiga demanda setorial: o gargalo logístico.
Neste contexto, o dirigente revela que os núcleos temáticos da Abag indicam um custo de US$ 90,00 para o transporte de cada tonelada de grãos no Brasil. Em comparação com outros países, na Argentina, por exemplo, o valor associado ao transporte é de US$ 42,00, por tonelada e, nos Estados Unidos, alcança apenas US$ 25,00 por tonelada.
"Desta forma, enquanto não resolvermos estes problemas estruturais não há valorização cambial e de preço de commodities que resolva a nossa falta de competitividade no mercado externo", defende o presidente da Abag.
Câmbio e moinhos ativos elevam cotações do trigo
A comercialização de trigo em grão esteve mais aquecida na última semana em relação às anteriores. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os moinhos estiveram ativos para reposição dos estoques e têm dado preferência ao cereal nacional. Com a constante valorização do dólar, o trigo importado está cada vez mais caro para os compradores brasileiros.
Produtores também demonstraram maior interesse nas negociações do produto estocado, com o objetivo de fazer caixa, já que os valores atuais são considerados atrativos. Esse cenário tem fortalecido os preços do trigo, o que pode influenciar na decisão pelo plantio do cereal em detrimento do milho na segunda safra. Para a temporada 2015/2016, espera-se avanço na área plantada principalmente no Norte do Paraná, em razão do atraso no cultivo de soja. Porém, ainda não é possível mensurar o impacto sobre a área plantada.
Fonte: Jornal do Comércio - 18/3/2015 - Caderno: Agronegócios

Comentários