25 de maio: 80 anos do Conflito que resultou na morte de agricultores e do Delegado


Placa fixada junto ao Prédio da Prefeitura Municipal

Poucos conhecem ou sabem que em 25 de maio de 1936, Antônio Prado teve a sua história marcada por um conflito que tirou a vida de três agricultores: Pedro Pastore, Vitório Meneguzzi e Antônio Perosa e do delegado de polícia Armindo Cesa.

Reportagens da época, ofícios enviados e registros policiais, colhidos pelo professor Valdemir Guzzo, em seu trabalho publicado pela Editora da PUC, o e-book: “Antônio Prado religião, politica e etnias no conflito de maio de 1936” mostram as diferentes versões do incidente em cartas e ofícios enviados por autoridades da época aos comandos na capital. Entre elas uma carta datada de 15/06/1936 remetida pelo prefeito da época Oscar Hampe ao Coronel J. Canabarro Cunha, Comandante da Brigada Militar no Estado – Porto Alegre, descreve a terrível cena de batalha travada entre colonos e policiais. “ Era uma luta a tiros de muitos homens da colônia, contra uns poucos que se encontravam no prédio da Prefeitura Municipal em pleno centro da cidade. Os projéteis roçavam o corpo de um Oscar Hampe que, sereno, com um revolver em cada mão retribuía aos tiros, aos muitos que lhe eram destinados e também um Oscar Cesa, com a mira do revólver arrancada por um projétil que, assim se desviando, tinha-lhe poupado a existência. Quem nesse instante estivesse na Praça Garibaldi e de longe a visse sob qualquer ângulo, haveria de ver, sem dúvida alguma, um quadro de tristeza real, de melancolia, uma quase que hecatombe que se abatia sobre a outrora pacata vila de Antonio Prado.
Feridos e mortos espalhados por diversos pontos da praça, gente disparando, gente apavorada, uns lutando a tiros, brigadianos valorosos a defenderem o Prédio da Intendência, enfrentando os afazeres de uma luta que se estendia até a esquina da Rua da Paz, hoje Avenida Rio Branco, com a citada praça.”
Guzzo, em sua pesquisa recuperou através do livro de registros da Delegacia de Polícia de Antônio Prado o resumo do CONFLITO uma outra versão. “ O aumento considerável e inesperado do imposto territorial foi o inicio e a causa principal da Trágica Ocorrência de 25 de maio de 1936, cujo fato criminoso assim se passou: em dias de maio de 1936, toda a colônia murmurava em torno do aumento de impostos e, por sua vez, os colonos corriam as autoridades mais próximas de suas moradias, pedindo interviessem junto ao prefeito para a diminuição dos aludidos impostos. Taes autoridades, que eram inspetores de travessões ou linhas, sub-prefeito de distritos, respectivamente, aconselhavam algumas de parecer que os interessados se dirigissem ao prefeito, por intermédio de fundamentado abaixo assinado, outras prometiam providenciar e, ainda outros, inclusive o sub-prefeito do 2º. Distrito de Nova Roma, aconselhava que todos os interessados, devidamente incorporados, deveriam ir pessoalmente, a presença do prefeito, para, em protesto coletivo alcançarem provimento em favor de suas aspirações. E foi assim que cerca de tresentos colonos aceitando o ultimo parecer ou alvitre, resolveram, após prévia reunião da vila, em modesto hotel, a pé e desarmados, seguirem devidamente incorporados até a prefeitura. O prefeito Oscar Hampe ao tomar conhecimento da intenção dos colonos, esteve pela manhã, no hotel onde se achavam reunidos regular numero de colonos, ocasião em que declarou a Carlos Pastore e outros, que a presença dos colonos em massa, até a prefeitura, correria grave perigo, pois, bastaria para representa-los, uma comissão, ficando assentado, assim, que os colonos permaneceriam reunidos na praça fronteira ao edifício da prefeitura, enquanto que a comissão escolhida, entender-se-ia não só com ele prefeito, como também com os membros da Câmara Municipal, que seriam especialmente convidados pelo prefeito, ficando mesmo aprazado que dita reunião verificar-se-ia as 14 horas daquele dia. Precisamente a hora estipulada, cerca de 300 colonos estacionaram na praça referida, destacando-se para entender-se com as autoridades respectivas, os seguintes colonos: Carlos Pastori, Erminio Denale, Antonio Busetto, Romano Riva, Abramo Maschio e Pedro Forlin. Mal a comissão se aproximava da porta da prefeitura, o prefeito Oscar Hampe, exasperando-se, agride um dos presentes, de revolver em punho, dando com a coronha do revolver na cabeça de um dos colonos e, em seguida o delegado de polícia cidadão Armindo Cesa, que era genro do prefeito, sae precipitadamente do interior da prefeitura, acompanhado de praças do destacamento da Brigada, armados de fusil, ocasião em que cerrado tiroteio se fez sentir, do qual resultou na morte do malogrado delegado e do colono Antonio Perosa. Incessante fuzilaria, poz em fuga, verdadeiramente apavorados todos os colonos, os quaes corriam em direções varias, procurando abrigar-se das balas de fuzis e revolveres, respectivamente empunhadas pelos praças do destacamento que se achavam de prontidão, pelo prefeito Oscar Hampe e seus demais companheiros, ali reunidos. Quando procurava fugir da fuzilaria irrompida da parte fronteira da Prefeitura, foi alvejado pelas costas, o colono Ângelo Bolsoi, que tombou gravemente ferido. Pedro Pastore, maior, casado, juntamente com Vitório Meneguzzi, menor de 18 anos, procuravam amparar Bolsoi, quando deles se aproximou o dr. Oswaldo Hampe, acompanhado de seu choufeur, Eduardo Deluchi, ambos de revolver em punho, tendo o dr. Oswaldo Hampe descarregado a sua arma contra o menor Meneguzzi que, mortalmente ferido, arrastou-se ate a porta da casa comercial Grazziotin, onde exalou o ultimo suspiro. Concomitantemente, Eduardo Deluchi fuzila pelas costas ao colono Pedro Pastore, que tombou em plena rua. A seguir o dr. Oswaldo Hampe, não satisfeito, ataca e descarrega o seu revolver contra o agente consular Luiz Angelini, indefezo velhinho, desfechando-lhe quatro ou cinco balázios, dos quaes treis atingiram o alvo, causando-lhe ferimentos de natureza grave. ...Já falamos de Antonio Prado, pacata e acanhada vila do interior do Estado, que serviu de teatro para os trágicos acontecimentos datados de 25 de maio de 1936 e que consternam uma população inteira, pondo-a em situação deveras alarmante, constituindo os crimes descritos, caso inédito nos fatos policiaes do Rio Grande. Enquanto uns, os mais corajosos assistiam o desenrolar da chacina que se consumava em plena via publica, bem no coração da vila, outros, verdadeiramente escandalizados, ocultaram-se, receiosos de serem atingidos pela sanha desenfreada do oficialismo local”.
A descrição acima mostra a história oficial e conhecida. Mas os reais culpados pela morte dos três agricultores e do próprio delegado não foram esclarecidas por sua totalidade. Os motivos poderá ter sido o aumento dos impostos, mas também há indícios de motivação religiosa, étnica e politica, como afirma o trabalho do professor pradense. “Sobre os incidentes pode-se afirmar que não passaram de exaltação momentânea. Os que morreram...foram vítimas de um infeliz acaso. Os colonos, os revoltosos ou os assaltantes, têm tanta responsabilidade pelo acontecido quanto aos que os acusam”.

Os três agricultores: Pedro Pastore, Vitório Meneguzzi e Antônio Perosa eram moradores da Comunidade de São Pedro, Linha Trajano, Nova Roma do Sul.

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