*Por
Henrique Mendes
Tratar do desenvolvimento
sustentável no agronegócio brasileiro é um assunto complexo e um tanto quanto
delicado. Lembro de uma reportagem recente na televisão que mostrou a crueldade
na forma de abate dos animais e a completa falta de higiene dos matadouros
clandestinos no Brasil. Nada daquilo mostrado remete - nem mesmo de longe - a
uma forma sustentável de se criar o gado e produzir alimentos.
O Brasil é um dos maiores
exportadores de carne do mundo e o único país que tem a capacidade de abastecer
os mercados internacionais com a demanda global crescente deste alimento. E se
ainda temos este grande problema com abatedouros clandestinos, uma forma de
combatê-los seria através da instrução, da educação e conscientização do
consumidor em relação ao produto que encontramos nas prateleiras do varejo.
Apresentar de forma didática o carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF),
concedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, que atesta a qualidade sanitária
e a conformidade com a legislação dos produtos de origem já seria o primeiro
passo.
A sustentabilidade passa pela
formação de uma nova sociedade, muito mais consciente e crítica em relação às
práticas das empresas e governos. Mais ainda, o desenvolvimento sustentável irá
demandar uma nova forma desta sociedade se relacionar com as formas de produção
e consumo, e tudo isto só será possível por meio do conhecimento, da informação
acessível e da transparência em todos os setores.
Existe uma iniciativa pioneira neste
setor chamada “Pecuária Sustentável”, onde um grupo de trabalho
procura lançar luz a estas questões, investindo em novas tecnologias e práticas
que garantam maior controle no monitoramento e qualidade na gestão de compra e
produção pecuarista. Este é um grande projeto com perspectivas positivas quanto
à promoção da sustentabilidade na pecuária bovina, mas que muitas vezes
encontram barreiras na falta de instrução dos produtores, ou mesmo no
desconhecimento do projeto e serviços disponíveis.
Outra questão interessante é a
pegada ecológica na produção da carne. A quantidade de água e energia, além das
áreas cultiváveis necessárias para se produzir este alimento é enorme. Soma-se
a isto a questão das emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas durante o
processo de criação e produção da carne.
O processo digestivo do gado libera
grandes quantidades de metano, assim como a decomposição do estrume animal que
também libera GEE. Tudo isto somado a áreas de preparo para formação de
pastagem (lê-se queimadas e desmatamento) aumentam significativamente a pegada
de carbono nesta produção.
Mas, por outro lado, já existem
metodologias para redução das emissões e geração de energia a partir do resíduo
dos animais e técnicas de criação holísticas que otimizam a área de criação ao
mesmo tempo que promovem uma maior captura de CO2 da atmosfera no pasto.
Enfim, este é um assunto
extremamente delicado e bastante complexo. Nestes casos se faz necessário olhar
o sistema como um todo, para assim então compreender melhor seus
desdobramentos, entraves e enxergar então as possíveis soluções.
Henrique Mendes é
bioquímico pela UFJF com MBA em gestão ambiental pela FIT. Gerente de Negócios
da www.neutralizecarbono.com.br
e Consultor na www.greendomus.com.br.
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