Artigo: Por que rastrear o gado gaúcho

Luiz Fernando Mainardi
A manhã estava cinzenta e úmida. O pavilhão do Parque de Exposições de Lavras do Sul lotado por lideranças do setor rural, produtores, técnicos, pesquisadores e estudantes. Todos preocupados com o futuro da pecuária gaúcha e a preservação do Pampa, com exploração sustentável econômica e ambientalmente. A data, 4 de julho de 2013. Neste cenário, na abertura do Seminário “O Pampa e o Gado”, o governador Tarso Genro fez o anúncio histórico de que remeterá à Assembléia Legislativa o Projeto de Lei instituindo a obrigatoriedade da identificação individual do rebanho bovino do Estado. Demos um passo importante rumo à modernização da atividade pecuária.
O conjunto de medidas que irá à apreciação dos deputados resulta de um amplo debate travado na Câmara Setorial da Carne há cerca de dois anos e das observações que fizemos nas viagens técnicas ao Uruguai, Austrália e Nova Zelândia, onde recolhemos importantes ensinamentos.
A medida, que prevê investimento de R$ 60 milhões nos próximos cinco anos, identificará os animais por época de nascimento, com brincos fornecidos pelo Governo do Estado, financiados com o resultado das políticas de combate ao abigeato, ao abate clandestino e à sonegação fiscal, que a rastreabilidade ajudará reduzir.
Poderíamos destacar, como consequências diretas da identificação, a melhoria dos controles sanitários, com reflexos diretos nas demais cadeias produtivas de origem animal – o próprio combate àqueles que agem à sombra, antes referido – a criação de uma importante ferramenta de gestão das propriedades rurais. Mas, vamos focar a abordagem nas amplas possibilidades que se abrem para a valorização deste produto único que sai de nossos campos e que está pronto para ampliar sua participação no mercado internacional.
Basta olhar ao sul e ver a revolução que acontece no Uruguai. E, ao norte, o que ocorre em Santa Catarina. No vizinho de Mercosul, a reorganização da cadeia da carne, que tem base medular na rastreabilidade, dobrou os valores. Em 2006, o quilo vivo do boi valia US$ 1,00. Hoje, é vendido por US$ 2,00. Em Santa Catarina, a rastreabilidade é importante sustentáculo do status sanitário que o Estado detém e que permite, por exemplo, acessar com a carne suína o mercado japonês, um dos mais exigentes do mundo.
Tudo isso, na prática, significa criar condições para que os produtores obtenham melhor remuneração e, com isso, consigam melhorar sua renda. E, claro, para que o Estado, através de políticas de caráter estruturante, valorizadoras da produção, amplie a arrecadação de impostos, sem aumentar a carga tributária, e faça o enfrentamento das principais demandas do povo gaúcho em áreas como saúde, educação, segurança e infraestrutura.

Estamos convencidos de que teremos, nos produtores, nas entidades representativas e no parlamento, a acolhida que a medida merece. Uma política que leva à modernidade, colocando o Estado, mais uma vez, na vanguarda da produção agropecuária. Precisamos ampliar o número de fazendas que rastreiam. Sair das apenas 170 atuais para as 460 mil propriedades que criam gado. Para que todos tenham condições de acessar os mercados que pagam mais por um produto de qualidade, como o que produzimos em nossos pastos.

Luiz Fernando Mainardi
Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio
Deputado Estadual

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