Ameaça a Agricultura Gaúcha

Formada com muito suor, lutas e desafios, a história da agricultura gaúcha foi o pilar do que se chama, hoje, agronegócio brasileiro. Da lida nestes campos - tão bem retratados pelo nosso conterrâneo grande escritor Érico Veríssimo -, partiram Brasil afora os desbravadores das novas fronteiras que hoje semeiam o chão e colhem o grão. Mais ainda estamos entre os principais celeiros do País. Em 2012, o complexo de cadeias do agronegócio representou para o Estado, um valor de produção, apenas dentro da porteira, de expressivos R$ 26 bilhões de reais. Apesar da pujança, o Rio Grande pode estar prestes a perder suas raízes e sua condição de um dos mais competitivos do País.
Uma visão distorcida o sobre a missão da agropecuária e a forma como são divulgadas notícias do setor prejudicam diretamente a gente do campo e a Economia gaúcha. Para ser justo, tal equívoco não está restrito ao Sul - ele acomete também minorias extremas em outros estados. Veja-se o que ocorreu após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, divulgar, dia 29 último, seu Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, PARA.
Em 2012, o órgão analisou 1.665 amostras de legumes, frutas e cereais de todo o país. No Rio Grande do Sul, foram colhidas 79 amostras de alimentos. O resultado nacional aponta que 96% estão em condições para comercialização e consumo, pois seus Limites Máximos de Resíduos estão de acordo com os padrões internacionais. Estes números demonstram a segurança dos alimentos analisados.
Nos anos anteriores, a divulgação do PARA suscitou manchetes alarmistas sobre "alimentos contaminados". Apesar da cautela, desta vez, da Anvisa em explicar o relatório, alguns telejornais, em rede nacional, insistiram em reportagens com o viés do pânico. Ou seja, criou-se uma situação em que a Imprensa televisa, na busca da manchete de impacto, decretou que pimentão e morango estariam contaminados - desafiando a própria Anvisa, que não afirmou isto. Assim, ambos pagaram o preço: de um lado, os telejornais, ao não informarem corretamente seu público; de outro, a Agência, que em anos anteriores anunciou o PARA induzindo a Imprensa a alardear a "contaminação dos alimentos".

Felizmente, a Anvisa se mostrou preocupada em reeducar a opinião pública, pois a interpretação equivocada do seu Relatório anima os caprichos de um certo ambientalismo urbano. Nele, há pessoas bem-intencionadas, mas também militantes que empunham bandeiras extremadas. O fato é que ambos não semeiam, não plantam, não produzem comida. O tratamento equivocado da produção agropecuária acende a militância black-bloc da agroecologia, que apregoa a agropecuária sem o uso de tecnologias. Tal arcaismo aniquilaria o campo - sobretudo os pequenos lavradores, cerca de 70%, dos cinco milhões de agricultores do país - essa brava gente que produz comida para o Brasil e o mundo. E condenaria de vez 842 milhões de pessoas, 6,8% brasileiros, que ainda sofrem a inaceitável injúria da fome.
*João Sereno Lammel é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas, RS, e presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal, ANDEF.

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