Registros do dia de campo em Veranópolis. Crédito: Giovani Capra/Embrapa Uva e Vinho |
Na tarde de 10 de outubro, na comunidade de Nossa Senhora da Paz, em Veranópolis (RS), na propriedade da vinícola Barbarano, cerca de 50 produtores e técnicos participaram do Dia de Campo sobre produção de uva em sistema orgânico. Ocorrido em um vinhedo da cultivar Isabel Precoce conduzido de acordo com o modelo de produção orgânica, o evento foi promovido pela Embrapa Uva e Vinho e pela Emater/RS-Ascar, com o objetivo de conscientizar sobre os benefícios da produção agroecológica/orgânica de alimentos, mostrar que é possível produzir uva (nesse caso de uma variedade americana) nesse sistema, sem perda de qualidade e de produtividade, e apresentar os resultados de um sistema agroecológico para a produção de uvas que vem sendo construído há alguns anos com o conhecimento dos viticultores, técnicos de várias instituições regionais, professores e pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e de outras unidades da Embrapa.
A atividade foi aberta com a abordagem do tema Manejo de solo e adubação, feita pelo pesquisador da Embrapa Uva e Vinho George Wellington Bastos de Melo. Ele lembrou que a correção e o preparo do solo são feitos de maneira semelhante ao plantio convencional. Após o plantio das mudas, sempre que possível, deve-se manter a cobertura vegetal natural ou realizar a semeadura de espécies como a aveia e a ervilhaca. Em relação a esta, o pesquisador ressaltou a necessidade de ficar atento para que a leguminosa não proporcione vigor excessivo à videira, consequência da elevada fixação de nitrogênio.
Na segunda estação, o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar Enio Todeschini, ao tratar de manejo fitossanitário dos vinhedos, abordou os aspectos relacionados à localização do parreiral, tratamento de inverno com calda sulfocálcica e manejo da parte aérea da planta como técnicas importantes para a minimização da ocorrência de doenças e, consequentemente, para facilitar o controle. Outro aspecto ressaltado pelo técnico foi a necessidade de desinfecção dos instrumentos de poda, para evitar contaminação por fungos-do-lenho.
Posteriormente, o pesquisador da Embrapa Henrique Pessoa dos Santos abordou os aspectos relacionados ao uso de cobertura plástica como técnica importante para auxiliar a produção orgânica de uva. Henrique ressaltou que a plasticultura é um sistema de produção novo e diferente da produção tradicional sem cobertura. Segundo o pesquisador, a cobertura proporciona, nas linhas de plantio, uma proteção que impede a formação de água livre nas plantas e, em consequência, o estabelecimento de doenças. Com isso, não há necessidade de aplicação de produtos para o controle delas. A cobertura plástica também afeta o microclima e interfere na fenologia e na atividade fisiológica da videira, devendo o produtor estar atento a isso.
Na última atividade do evento, o pesquisador da Embrapa Joelsio José Lazarotto apresentou informações relacionadas aos impactos econômicos e financeiros da produção de uvas americanas, enfatizando, em especial, a viabilidade do uso da cobertura plástica. Segundo ele, a viabilização dessa tecnologia requer a elevação da produtividade dos vinhedos, o aumento do preço recebido pela uva e a agregação de valor à matéria-prima, com destinações como, por exemplo, a produção de suco. Além disso, de acordo com o pesquisador, há necessidade de se aumentar a durabilidade do plástico, item que eleva sobremaneira o custo dessa tecnologia.
O dia de campo foi uma ação do Projeto Produção orgânica de uva para suco: construção participativa do conhecimento e desenvolvimento de tecnologias para agricultores familiares da Serra Gaúcha (ProUva), coordenado pela Embrapa Uva e Vinho e realizado em parceria com diversas instituições. O ProUva, liderado pelo pesquisador da Embrapa Uva e Vinho João Caetano Fioravanço, busca alternativas de maior valor agregado, mais saudáveis e capazes de atender a demandas de mercado. “O dia de campo apresentou, em suas quatro estações, alguns pontos que estão sendo estudados no âmbito do projeto”, diz Fioravanço. O pesquisador ressalta que o dia de campo foi realizado em um vinhedo da cultivar Isabel Precoce porque é a variedade cultivada pelo agricultor. Entretanto, as informações que foram repassadas podem ser utilizadas em vinhedos de outras cultivares, como Bordô, Concord, Isabel, Niágara, Cora, Violeta etc. Em determinados casos, os dados também podem servir para a produção convencional de uva, ou seja, para produtores que realizam o controle de doenças, pragas e ervas daninhas por meio da aplicação de agrotóxicos. Fioravanço ressalta que eventos dessa natureza são importantes para o repasse de informações da pesquisa para os produtores e técnicos mas, também, são extremamente valiosos para conhecer as experiências dos produtores, suas dificuldades e necessidades e, assim, obter subsídios para a continuidade dos trabalhos em produção orgânica.
A atividade foi finalizada com a degustação do suco orgânico produzido na vinícola Barbarano e de sucos de seis variedades de uva elaborados pela Embrapa Uva e Vinho a partir da matéria prima produzida por outros agricultores que colaboram com o projeto. A gerente do estabelecimento, Elisabeth Rocha, assinalou a importância de se buscar um gênero de produção como a orgânica em um estabelecimento vitivinícola da ‘Terra da Longevidade’, fazendo menção ao título ostentado por Veranópolis. O evento contou com a presença do vice-prefeito do município, Paulo Maragno, que destacou que “a produção orgânica é qualidade de vida para o produtor e para o cidadão”.
Por Giovani Capra
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