“Nosso trabalho não progride esbarra na justiça que não tem condições de dar conta da demanda de processos” diz conselheiro Tutelar
Imagem ilustrativa |
Hoje, 18 de novembro, é dedicado aos Conselheiros Tutelares,
função esta criada em Julho de 1990, juntamente com o ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente). Um Conselheiro Tutelar luta pelos direitos das crianças e adolescentes da
sua comunidade. É um cargo público que implica exercer o papel de educador
e orientador dos mais jovens, criando iniciativas que potenciem
o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Em Antônio Prado, o Conselho tutelar foi criado em 1994, teve sua
primeira eleição de conselheiros em abril de 1996, e iniciou os trabalhos em
maio deste mesmo ano. Hoje ele é coordenado pelo Conselheiro Volmir Citon.
Como todos os setores públicos, o Conselho Tutelar as vezes
tem seu trabalho reconhecido e muitas vezes sujeito a críticas. O conselheiro
Tutelar, que atua pelo terceiro mandato, Ronei Marcílio, conta um pouco da
atividade e desabafa. “Nosso trabalho não progride esbarra na justiça que
não tem condições de dar conta da demanda de processos”. Confira a entrevista
concedida via Skype.
Vida: O
que o levou a ser conselheiro Tutelar?
Ronei: Primeiro
foi uma forma de ganhar dinheiro, mas ai fui descobrindo que é muito mais que
isso. É uma lição de vida. A realidade é cruel. Infelizmente, nesse terceiro
mandato estou me decepcionando. Somos apenas meras peças. Nosso trabalho não
progride esbarra na justiça que não tem condições de dar conta da demanda de
processos. As crianças e adolescentes ficam em último plano. Hoje, como estão
as coisas, eu não concorreria novamente. Só tivemos um promotor que se
interessava pela causa, o Dr Érico Barin.
Vida: Você é titular ou suplente neste mandato?
Ronei: Suplente.
Cada conselheiro pode ter dois mandatos. Eu tenho três. A primeira vez fui
eleito e pude concorrer outra que fui suplente e também chamado. Assim pude
concorrer a terceira e fiquei suplente.
ou seja
participou de quase todas as eleições
lembra o
ano de instalação?
Vida: Pelo
tempo, você lembra quando foi instalado o Conselho Tutelar em Antônio Prado?
Ronei: Foi
através da Lei Municipal 1529/94, a primeira eleição foi em eleição 20/04/96
e os trabalhos iniciaram em 02/05/96
Vida: No
tempo de trabalho Ronei, da primeira atuação e esta, o que mudou?
Ronei: O
estatuto, ECA, não mudou. Mudaram os
conselheiros e promotores, alguns que ligavam pro estatuto, prefeitos que se
importavam com o trabalho, outros não.
O
conselho sempre foi mal interpretado pela população. O Conselho não é polícia,
não é órgão
fiscalizador. O Conselho não defende só
os direitos. Cobra os deveres e não pune. Ele orienta, oferece opções para
ocupação e não obriga ninguém a cumprir. Nós, conselheiros não tiramos filho e
não passamos a guarda. Simplesmente obedecemos a decisões judiciais. Claro que
as determinações não cumpridas acarretam em denúncia ao juiz da Infância e
Adolescência
Vida: A
que você atribui essa interpretação da população? Falta de divulgação, medo, desconhecimento?
Ronei: Desconhecimento,
ao comodismo dos educadores, pais. Cada um tem que fazer o que lhe cabe, respeitando
os direitos das crianças e adolescentes. Quando esses direitos não são
respeitados entramos. A lei da palmada, está errada até no nome.
Não é
proibido dar um tapa num filho, puxar a orelha. É proibido espancar.
Vida: Na
tua opinião, o que seria preciso fazer para que os direitos das crianças e
adolescentes sejam lembrados pelos seus responsáveis?
Ronei: Todos
sabem, porem a chamada rede não funciona. Exemplo: sabemos que não podemos
espancar uma criança, mas espancamos e dizem “Não dá Nada”
A justiça
falha. É obrigatório o estudo de conclusão do ensino fundamental ou até 18 anos o que chegar primeiro. Hoje, se enviado uma ficha na promotoria,
o caso
vai ser visto daqui a um ano mais ou menos.
Vida: Teve
algum caso que marcou sua vida?
Ronei: Sim,
um caso que acompanhei de uma criança que estava com metade do peso previsto
para a idade, estava desnutrido, doente, sem forças. Foi feito um trabalho de acompanhamento. A criança estava melhorando, porem a mãe não colaborou e
decaiu novamente. Foi levado ao Juiz e ao Ministério Público, esses
determinaram a retirada do filho da mãe e entregou a família substituta. Eu
acompanhei a retirada
Vida: Vocês
pregam pelo bem da criança, houve alguma vez que a justiça foi contra o bem da
criança ou do adolescente?
Ronei: Não,
o Conselho goza de autonomia funcional, não tendo nenhuma relação de
subordinação com qualquer outro órgão do Estado.
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